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Técnicas do Psicodrama


Durante a acção terapêutica o director utiliza determinadas técnicas de forma a favorecer a meta comunicação, a empatia e os sentimentos. Existe um grande número de técnicas, conquanto, irei realçar as principais, jamais por desvalorizar as outras mas pela natureza do trabalho. 

Como o próprio nome indica o processo desta técnica é a troca de papéis. Quando na dramatização o protagonista interage com o ego auxiliar e o director enuncia a palavra troca o protagonista toma o papel do seu interlocutor.
Julgo que esta técnica é mais complexa do que parece. Já vivenciei esta técnica e, efectivamente, o que esta técnica permite é aceder às representações que possuo acerca do outro e quando tomo o lugar do outro sou unicamente a projecção das minhas representações. Todavia não deixa de ser interessante porque nos permite ganhar a consciência que de pouco ou quase nada sabemos acerca do outro e que de facto é necessário fazer um constante esforço para o compreendermos. “Antes de tudo é preciso salientar que a inversão ou a troca de papéis só ocorre quando as pessoas envolvidas estão de facto presentes. Quando o protagonista «troca» de papel, desempenhando o papel de alguém a quem está se referindo, real ou imaginário, o que se está usando é uma variação da técnica de apresentação de papéis, em que ele toma o papel do outro, expressando o modo pelo qual o vê.” (Monteiro, 1998, p. 21)
Tendo isto penso que a inversão de papeis como alguns lhe chamam, ao contrário do que este último autor designa, permite-nos perceber que a descentralização do nosso “eu” e a compreensão empática é um processo difícil e é vivenciando esta técnica que entendemos que “os versos” da vida têm valores tão subjectivos como o bem e o mal.

O solilóquio acontece quando o director durante a acção “congela a cena e pede ao protagonista que «pense alto» ou «diga em voz alta o que está a sentir» ”. (Veiga, 2009, p. 143)
Parece ser normativo no ser humano durante as suas interacções no dia-a-dia a utilização de uma comunicação não muito clara. Na verdade, o ser humano discursa o que acha que deve discursar, fala o que se espera falar (é obvio que as coisas não são assim tão lineares) e que muitas vezes não corresponde com os seus sentires ou com aquilo que realmente deseja dizer. Durante o contexto psicodramático estes aspectos perpetuam-se e para tal o director utiliza esta técnica para aceder aos afectos e às percepções internas do protagonista. O director ao aceder a aspectos internos do protagonista poderá dar uma outro nuance à acção recorrendo, se for o caso, a novas ordens aos egos auxiliares.
Passando por esta experiência (não este ano lectivo) senti algum desconforto na medida em que ganhei a consciência que de facto não estava a ser coerente comigo mesmo e que os meus sentimentos em relação à situação eram de revolta. Nos dias de hoje penso que é importante mostrar assertivamente o que sinto sobre determinada situação e ser coerente comigo mesmo (claro que tudo tem que ser bem mediado)

Durante as acções o director pede aos egos auxiliares para agir de uma forma diferente daquela que o protagonista descreveu, por exemplo: se o protagonista diz que o seu “contrapapel”  é um individuo agressivo o director pede ao ego-auxiliar, sussurando ao seu ouvido, que adopte uma outra conduta contrária. Desta forma, o protagonista vai treinando a sua espontaneidade e criatividade da sua resposta.
Não é menos verdade que somos o que somos na interacção. Se parto da ideia que a pessoa com quem eu estou a interagir é agressiva possivelmente terei uma resposta já condicionada com esta forma de perspectiva-la. Se tenho a consciência que comportamento gera comportamento, se sou conduzido por ideias estereotipadas e preconceituosas, a recriação da relação ganhará um novo sabor.   
Esta situação ocorre quando o director pede a um ego auxiliar para imitar o protagonista retratando as condutas, a forma de comunicar, etc. com o átomo social. Assim sendo o protagonista vê-se a si mesmo podendo corrigir e melhorar a sua auto-percepção e as suas condutas. “Este tipo de auto-observação pode ser incómoda para o protagonista que se apercebe e se vai corrigindo, obtendo assim resultados imediatos.” (Abreu, 1992 , p. 41)
Em todo o meu percurso sociodramático nunca assisti ao uso desta técnica contudo experienciei uma situação semelhante a esta técnica e que achei bastante importante para a minha formação profissional e até pessoal. Em tempos na minha formação de Animador Sociocultural a docente responsável pela disciplina principal do curso utilizava o vídeo para gravar as apresentações de trabalhos dos alunos de forma a estes poderem auto-percepcionar e melhorar a sua postura para futuras exposições públicas. Achei a técnica utilizada pela docente do curso magnífica na medida em que me ajudou a modificar determinados aspectos inconscientes que tinha durante a exposição treinado e recriando o meu papel.
Durante a acção o duplo é utilizado “quando o protagonista está impossibilitado ou tem muita dificuldade para se expressar verbalmente.” (Monteiro, 1998, p. 18) O director pede ao ego auxiliar, durante a dramatização, que coloque a mão sobre o ombro do protagonista e faça um desdobramento do seu “eu”.  O ego auxiliar faz uma interpretação da situação vivencial ou seja, dos sentimentos dos protagonistas, uma melhor clarificação dos conteúdos verbais, “os verdadeiros receios, motivações ou intenções escondidas” (Abreu, 1992 , p. 42) Esta técnica pode negligenciar a fala e utilizar gestos e expressões corporais sendo uma mais-valia, pois a mensagem é pouco clara podendo o protagonista dar asas à sua interpretação não sentido ofendido caso a interpretação do ego auxiliar não corresponda verdadeiramente ao sentido do protagonista. 

A representação simbólica é utilizada quando, por alguma razão, é impossível trazer para o contexto dramático a situação da vida real, tal como sexo, violência, entre outros. Tenta-se encontrar formas de representar essa situação simbolicamente. Por exemplo, “o caso de um relacionamento sexual. Pode então recorrer-se à representação simbólica, que consiste em convencionar um comportamento equivalente, como um  jogo de mãos, que corresponde ao contacto dos corpos.” (Abreu, 1992 , p. 43)
A dramatização também é ela uma forma de representação simbólica independentemente de não corresponder ao real, “pois elas tentam duplicar factos reais sem com eles coincidirem nem, na maioria das vezes, se lhes assemelharem.” (Abreu, 1992 , p. 83)
 É habitual o uso desta técnica pelos psicodramatistas encaminhando o protagonista para “esculpir”, utilizando os egos auxiliares ou simplesmente panos, para representar concretamente um sentimento, uma vivência, um valor, entre outros. Posteriormente, e após o término estátua, o director pede ao protagonista para clarificar e explicar a sua “obra de arte” de forma a compreende-la e aceder às representações mentais do «escultor». “Esta técnica associa a audácia da comunicação sincera e criativa, que nem sempre é verbal, à liberdade de interpretação. “ (Abreu, 1992, s/p cit. Veiga, 2009, p. 143)

“O role playing pode ser usado como técnica para a exploração e para a expansão do eu num universo desconhecido.” (Moreno, 1959, p.157 cit. Veiga, 2009, p.144) Esta técnica, como o próprio nome indica – jogar o papel -   permite ao protagonista desenvolver o seu papel treinando-o num ambiente livre de tensões avançando e retrocedendo a cena sempre que necessário.  São nos contextos dramáticos que os protagonistas preparam-se para a situação real desencadeando a criatividade e a espontaneidade.
Reportando-me para a minha experiência sociodramática compreendo a importância de passar por este processo e por esta técnica na medida em que desenvolvo a minhas aptidões profissionais (contudo as fronteiras entre o profissional e o pessoal tornam-se imperceptíveis) em que cada momento que passo vou recriando a minha relação, vou sentido a necessidade de estar em constante mudança, a estar mais atento ao outro e a estar mais atento às eventuais projecções que faço (face às representações que possuo sobre o outro e que em muito impede respostas criativas).

9 comentários:

  1. Seu blogue está muito interessante, pena não incluir as Referências Completas que expõe nos textos

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    1. Olá Regiane! Desde já agradeço o seu comentário. Terei muito prazer em lhe fornecer as referências bibliográficas! Envie-me um email para helderreis@animasc.com para que possa responder. Abraço e muito obrigado

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  2. Olá Helder Reis, gostaria de saber se encontro seriados que utilizam-se dessas técnicas?

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    1. Olá Glaucia! Na verdade não conheço vídeos, ou series, que contemplem estas técnicas. Uma vez que se trata de contextos terapêuticos, no qual se deve preservar a integridade do consulente, parece-me bastante difícil (não impossível) que exista pessoas que se queiram expor! Agradeço desde já a sua visita pelo blog! Um abraço de luz deste seu amigo do outro lado do Atlântico.

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    2. Por outra lado, jamais podemos esquecer um código deontológico que norteia a intervenção do profissional.

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  3. Segue as referências bibliográficas


    Abreu, J. L. (1992 ). O Modelo do Psicodrama Moreniano . Coimbra : CLIMEPSI Editores

    Monteiro, R. F. (1998). Técnicas Fundamentais do Psicodrama. São Paulo: Ágora

    Veiga, Sofia. (2009) “Palcos de Conhecimento, Espaços de Transformação Contributos da Metodologia Sociodramática para a Formação dos Educadores Sociais, Tese de Doutoramento em Psicologia realizada sob a Orientação do Professor Doutor Vítor Franco e Co-orientação da Professora Doutora Ana Bertão, Universidade de Évora

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  4. Adorei o texto, simplesmente fantástico.

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  5. Olá! Como posso ter o acesso ao conteúdo de VEIGA, SOFIA. Palcos de Conhecimento, Espaços de Transformação Contributos da Metodologia Sociodramática para a Formação dos Educadores Sociais. Tese de Doutoramento em Psicologia realizada sob a Orientação do Professor Doutor Vítor Franco e Co-orientação da Professora Doutora Ana Bertão, Universidade de Évora. ?
    Meu email é andreakorps@hotmail.com
    Grata.

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